FOTO TIRADA EM PARATY 22/02/2019

O ato público “Caminhada de Luiz Gama”, realizado por ativistas negros desde 1991, ocorre nesta terça (24) e marca o significado concreto e simbólico da caminhada na vida do advogado abolicionista, escritor e jornalista Luiz Gonzaga Pinto da Gama, seja ao longo dos seus 52 anos de existência física, seja no percurso do seu legado histórico. Este ano o tema do ato será “Caminhada de Luiz Gama chega ao cinema”, para celebrar a produção do longa-metragem “Doutor Gama”, do diretor Jeferson De, que entrou em cartaz nos cinemas último dia 5 de agosto e está disponível na Globo Play.

“Luiz Gama chega aos cinemas após 181 anos caminhando”, diz o jornalista e escritor Abilio Ferreira, um dos organizadores da Caminhada de Luiz Gama, se referindo ao percurso que Gama fez aos 10 anos, quando subiu a pé a Serra do Mar rumo a São Paulo, onde conquistou sua liberdade aos 17 anos, após ser vendido ilegalmente pelo próprio pai em Salvador, em 1840. “Jeferson De contou que boa parte do interesse dele por Luiz Gama partiu do livro ‘A luz de Luiz’, do jornalista Oswaldo Faustino, um dos organizadores da Caminhada. Para nós é uma grande realização a Caminhada estar conectada a essa conquista”, comenta Abilio.

A Caminhada de Luiz Gama é realizada regular e espontaneamente, com alguns períodos de interrupção, desde 1991 e remonta não só à subida da Serra do Mar, mas também ao enterro de Gama, que faleceu em 24 de agosto de 1882. Na ocasião, dezenas de pessoas que iniciaram o seu funeral decidiram realizar o cortejo a pé, do Brás, onde ele morava, até o Cemitério da Consolação, para dar oportunidade a todas de se revezar às alças do caixão. Até o fim do percurso, cerca de quatro mil pessoas (cerca de 10% da população paulistana na época) acompanharam o cortejo fúnebre.

Neste ano a caminhada começa no Cemitério da Consolação, no túmulo de Luiz Gama (Quadra 04, Rua 12, Jazigo 17), às 18h, passa pelo Sindicado dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, na Rua Rego Freitas, e se encerra por volta das 22h30 no Largo do Arouche, onde fica o busto de Luiz Gama, instalado em 1931.

O ativismo pelo reconhecimento, preservação e valorização da memória do abolicionista que libertou mais de 500 pessoas escravizadas vem colecionando conquistas nos últimos anos: Gama foi oficialmente reconhecido como advogado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em 2015, e como jornalista pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, em 2018, tendo sido também homenageado com  Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos em 2020 ; foi nomeado no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria do governo federal, em 2018, e agora em 2021 reconhecido como intelectual, ao ser o primeiro brasileiro negro a receber o título de doutor honoris causa da USP (Universidade de São Paulo).

“A valorização da história de Luiz Gama acontece dentro de um marco inédito do movimento antirracista no Brasil e no mundo, que é a associação da violência do estado contra a população negra com a presença de estátuas escravocratas nas cidades”, diz Abilio. “A discussão da violência e das desigualdades racial costumava acontecer de forma separada da questão simbólica, mas desde o movimento “Black Lives Matter” com o assasinato de George Floyd, as duas coisas estão sendo associadas: que o simbólico afeta a gente fisicamente.”

A organização da Caminhada tem natureza coletiva e conta com um grupo diversificado de pessoas, pertencentes a diferentes segmentos sociais. Algumas dessas pessoas: Cristina Adelina (cofundadora e coordenadora do Slam da Guilhermina), Flavio Carrança (membro da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, Cojira-SP), Oswaldo Faustino (autor do livro “A luz de Luiz”), Max Muratório (produtor cultural, responsável pela exposição sobre Luiz Gama na Caixa Econômica Federal em 2015) e Abilio Ferreira (escritor, coautor do livreto Rhumor Negro, publicado em 1991).

A  Caminhada Luiz Gama será realizada no dia  24 de agosto em São Paulo e assinala a passagem do 138º aniversário da morte do “maior abolicionista do Brasil” e “patrono da abolição da escravidão do Brasil”. , ano em que foi  colocado um busto do herói em frente à Academia Paulista de Letras, no Largo do Arouche.  Desde aquela época, é regularmente realizada, no dia 21 de junho (data do nascimento, em 1830), ou em 24 de agosto (morte,1882), uma caminhada desde o busto até o túmulo de Luiz Gama no cemitério da Consolação.

Na versão deste ano, serão apresentados três atos online transmitidos pelo Facebook e pelos canais do Jornal Empoderado e Jornalistas Livres a partir de quinta-feira (20/08) até a próxima segunda-feira (24/08), quando ocorrerá uma “caminhada virtual”. Em vídeo produzido pelo ator, escritor e produtor cultural Max Mu e sua companheira, a gestora de projetos e produtora cultural Marília Santos, serão exibidos pontos históricos da cidades  relacionados com a vida e a memória de Luiz Gama. Além disso, personalidades como João Acaiabe, Oswaldo Faustino, Naruna Costa, Max Mu, Ailton Graça, Eduardo Silva, Dinho Nascimento e Cyda Baú, entre outros, gravaram em vídeos trechos de um texto escrito por Raul Pompeia por ocasião da morte de Gama, que serão intercalados à exibição do percurso.

Também faz parte da programação do evento um ciclo de atividades virtuais que vão contemplar os diversos campos de atuação do abolicionista, todas previstas para as 19h: no dia 20/08 (5ª feira) irá ao ar o debate Luiz Gama para Advogados; na sexta, dia 21, Luiz Gama para Escritores; e no sábado, dia 22, Luiz Gama para Jornalistas.

No domingo (23/08), será exibido o vídeo Ação Catadoras “190 anos de Luiz Gama e a Liberdade de ser o que se é”, com exibição prevista para 11h30 e 19h.  Na segunda (24), após a Caminhada, serão exibidos os vídeos Luiz Gama: Defensor dos Escravos, do Direito e das Liberdades  Democráticas (18h) e uma retrospectiva e conversa sobre a peça Luiz Gama, Uma voz  pela Liberdade, às 21h.

Ao lado de Max Mu, participam da  coordenação do evento  Caminhada Luiz Gama os jornalistas Abílio Ferreira, Flavio Carrança e Oswaldo Faustino e a produtora cultural Cristina Adelina.

Luiz Gama foi um dos primeiros homens negros a ocupar os jornais brasileiros no século 19 como autor de textos em vez de mercadoria. O jornalista que foi também advogado, fundador do Partido Republicano Paulista e o principal líder abolicionista negro ganha em 2020 uma série de quatro lives para comemorar seus 190 anos de nascimento.

Os eventos são organizados pela Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de São Paulo (Cojira-SP), que é vinculada ao Sindicato dos Jornalistas e pretende abordar os trabalhos de Gama na imprensa. “Esse evento é uma reparação histórica contra o racismo epistemológico que apagou a figura de Luiz Gama da história da comunicação e do jornalismo”, ressalta Cinthia Gomes, mestranda da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), que integra a comissão e pesquisa sobre o abolicionista.

Cinthia lembra que mesmo quem se forma em Jornalismo não conhece a história de Gama na faculdade. “Além de ter sido proprietário de dois jornais, ele foi articulista e escreveu nos jornais mais importantes da época em São Paulo e no Rio de Janeiro. Nesses artigos, ele exercia diversas funções, como a de ombudsman em que monitorava o noticiário e criticava a atividade da imprensa. Ele ajuda a demarcar o início da atividade jornalística”, ressalta a pesquisadora.

Em seus artigos, Gama defendia princípios como a liberdade de imprensa, deu publicidade a casos de atos ilícitos cometidos por juízes que causavam obstáculo para as causas de liberdade. “Foi pioneiro em promover uma representação positiva e subversiva do sujeito negro na imprensa, que não era considerado um ser humano. Para além de conseguir status legal de liberdade das pessoas como advogado, Gama usava a imprensa para promover a mudança do imaginário popular para re-humanizar as pessoas negras”, destaca Cinthia.

História

Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em Salvador em 21 de junho de 1830 e morreu em São Paulo em 24 de agosto de 1882. Ele inscreveu seu nome da história da comunicação ao fundar o primeiro jornal ilustrado de São Paulo, o Diabo Coxo, em 1864, ao lado do caricaturista italiano Ângelo Agostini, e teve uma longa trajetória em outros veículos da época.

Como articulista, Gama contribuiu em questões fundamentais, como a representação da população negra na mídia e a defesa de princípios como a liberdade de imprensa. Com seu trabalho conseguiu libertar mais de 500 pessoas escravizadas.

As lives serão às quintas, às 18h, e com exceção de uma, que será no dia 21 de junho, domingo, data do nascimento de Luiz Gama, às 16h. As transmissões ao vivo serão feitas pelo Facebook, nas páginas da Cojira-SP,  Alma Preta e Jornalistas Livres.

Veja a programação:

Live 1: Luiz Gama, filho de Luiza Mahín
Data: 11/06, 18h
Apresentação: Juliana Gonçalves (jornalista, mestranda em Estudos Culturais na USP, integrante da Cojira-SP e da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo)
Convidada: Dulci Lima (doutoranda em Ciências Humanas e Sociais na UFABC, mestra em Educação, Arte e História da Cultura pelo Mackenzie. Bacharel em História pela USP. Pesquisadora do Centro de Pesquisa e Formação do SESC SP).

Live 2 – Luiz Gama: uma luz sobre o blecaute histórico
Data 18/06, 18h
Apresentação: Beatriz Sanz (jornalista, bolsista na fundação Cosecha Roja (Argentina), co-criadora do Banco de Talentos Negros e integrante da Cojira-SP)
Convidado: Oswaldo Faustino (jornalista, escritor, ator e co-fundador da Cojira-SP. Autor dos livros “A Legião Negra” e “ A luz de Luiz”, entre outros)

Live 3: As lições de resistência do jornalista Luiz Gama
Data: 21/06, 16h
Apresentação: Cláudia Alexandre (jornalista, doutoranda em Ciência da Religião na PUC-SP, apresentadora do Programa Papo de Bamba e integrante da Cojira-SP)
Convidada: Ligia Ferreira (Profa. Dra. do Departamento de Letras na UNIFESP. Autora e organizadora dos livros “Primeiras Trovas Burlescas e outros poemas”, “Com a Palavra, Luiz Gama” e “Lições de Resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro”)

Live 4 – Luiz Gama: a voz negra na imprensa
Data: 25/06, 18h
Apresentação: Guilherme Soares Dias (jornalista, empreendedor, apresentador do Guia Negro Entrevista e integrante da Cojira-SP)
Convidada: Cinthia Gomes (jornalista, mestranda em Ciências da Comunicação na USP, integrante da Cojira-SP e da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo).

Por Claudia Alexandre

No dia 30 de maio, em uma Roda de Conversa, promovida pela Cojira-SP – Comissão dos Jornalistas pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, o advogado Hédio Silva Júnior, coordenador geral do Idafro (Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-brasileiras) confirmou que os programas que irão ao ar como Direito de Resposta no processo movido contra o Grupo Record TV já estão prontos para serem exibidos.

O programa “Voz das Religiões Afro”, que será apresentado pela jornalista Claudia Alexandre terá quatro edições de conteúdos distintos, “para reestabelecer a verdade e rebater as ofensas e injúrias veiculadas pela emissora”, confirmou ele. O evento intitulado “Direito de Resposta e Racismo Religioso em Pauta” contou com a parceria com o Nera – Núcleo de Estudos Étnico-Raciais das faculdades FMU-FIAM-FAAM.

Hédio falou para um público composto por jornalistas, estudantes de jornalismo e convidados sobre o longo processo de ganho contra o Grupo Record TV, que durou 16 anos para ter a sentença cumprida, o que segundo ele, acumulou prejuízos aos seguidores de Umbanda e Candomblé, demonstrando práticas de racismo religioso e intolerância religiosa, que extrapolaram a tela da TV.

Participaram da mesa os jornalistas Flavio Carrança, Guilherme Soares e Claudia Alexandre (Cojira) e a professora e cientista social, Rute Reis (Nera). Foram debatidas questões importantes, como o papel da mídia na naturalização de práticas racistas; o lugar da religião na pauta diária de veículos de comunicação; o impacto da invisibilização e da esteriotipação do negro pela mídia brasileira, entre outros.

As datas de veiculação do programa A Voz das Religiões Afro, na Record News, serão divulgadas pelas redes sociais. Dr. Hédio Silva Jr. foi secretário da Justiça do Estado de São Paulo e é um dos mais respeitados defensores da cultura e das religiões de matrizes africanas. Em 2016, foi homenageado com o Troféu Asé Isesé (A força dos nossos ancestrais) conferido pelo Centro Cultural Africano à lideranças religiosas e personalidades públicas que se destacam na luta contra a intolerância religiosa.

Evento realizado em 17 de maio de 2018, na sede do Sindicato dos Jornalistas, organizado pela Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SP) com a participação da professora Lígia Ferreira e do jornalista e escritor Oswaldo Faustino, e mediação da jornalista Cinthia Gomes.